Security by Design: cibersegurança desde o desenvolvimento

Explore os princípios, benefícios e implementação do Security by Design, à luz do guia Shifting the Balance of Cybersecurity Risk, criado pela CISA e parceiros.

25 de Julho 2025 | 14:00

Aprox. 12 minutos de leitura.


Security by Design — ou “segurança desde o design” — uma abordagem que visa garantir que softwares e dispositivos sejam desenvolvidos com segurança integrada desde o início.

Neste artigo, exploraremos o conceito com base no documento Shifting the Balance of Cybersecurity Risk, desenvolvido por organizações como CISA, FBI, ACSC, CCCS e BSI

Abordaremos os princípios fundamentais do Security by Design e as diretrizes centrais da iniciativa Secure by Design Pledge, liderada pela CISA.

Apresentaremos também um panorama das ações práticas para implementar essa abordagem, seus principais benefícios para empresas e usuários, e os desafios mais recorrentes.

1. O que é Security by Design

Security by Design é uma prática que prioriza a segurança desde as fases iniciais de concepção e desenvolvimento de softwares e dispositivos, evitando vulnerabilidades futuras.

Ao invés de aplicar correções reativas após o lançamento, os fabricantes que adotam essa abordagem desenvolvem, testam e implementam produtos com defesas integradas contra ciberameaças.

Essa filosofia supera antigos padrões da indústria, com o objetivo de minimizar falhas exploráveis antes que o produto chegue ao mercado.

Desse modo, essa abordagem contribui para a proteção não apenas dos clientes, mas também de toda a cadeia de infraestrutura digital.

Empresas que adotam Security by Design aplicam boas práticas de codificação, autenticação forte, testes contínuos e modelagem de ameaças em todo o ciclo de desenvolvimento.

2. A iniciativa “Secure by Design Pledge” da CISA

Em 2023, a CISA (Cybersecurity and Infrastructure Security Agency) lançou uma iniciativa ambiciosa: o Secure by Design Pledge.

Trata-se de uma campanha voluntária que incentiva fabricantes de software a integrarem medidas de segurança como parte do desenvolvimento padrão de seus produtos.

Organizações que assinam o compromisso devem:

  • Implementar ações mensuráveis em até 1 ano;
  • Aumentar o uso de autenticação multifator (MFA);
  • Eliminar senhas padrão e adotar políticas de senhas seguras;
  • Reduzir classes inteiras de vulnerabilidades com boas práticas de engenharia;
  • Criar políticas claras de divulgação de vulnerabilidades;
  • Fornecer dados precisos sobre CVEs (vulnerabilidades conhecidas);
  • Incentivar atualizações rápidas de segurança por parte dos usuários;
  • Detectar e responder a incidentes de forma automatizada e integrada.

Essa iniciativa promove boas práticas de desenvolvimento, fortalece a confiança dos usuários e estimula transparência e responsabilização entre as empresas que aderem ao compromisso.

3. Princípios fundamentais do Security by Design

A base do Security by Design está em três princípios centrais que guiam o desenvolvimento seguro de software:

  1. Menor privilégio: cada usuário, sistema ou processo deve ter acesso apenas ao necessário para cumprir sua função, reduzindo o impacto de falhas e ataques. Isso inclui o uso de gestão de acessos rigorosa, autenticação forte e revisões frequentes de permissões;
  2. Separação de funções: responsabilidades críticas são divididas entre diferentes atores ou sistemas, evitando que uma única entidade tenha poder excessivo. No desenvolvimento, codificação, testes e implantação são feitos por equipes diferentes, garantindo controle cruzado e reduzindo o risco de alterações maliciosas ou não autorizadas;
  3. Defesa em profundidade: nenhum mecanismo de segurança é infalível. Por isso, Security by Design aposta em camadas múltiplas de proteção, incluindo firewalls, sistemas de detecção de intrusos, monitoramento contínuo, criptografia, testes automatizados e atualizações.

4. Como implementar o Security by Design?

Implementar segurança desde o design exige uma mudança significativa de mentalidade e práticas dentro das equipes de desenvolvimento. 

Veja abaixo como essa abordagem se traduz na prática.

I. Planejamento de ameaças desde o início

Utilize threat modeling para antecipar os possíveis vetores de ataque ainda nas fases iniciais do projeto. 

Isso permite a criação de arquiteturas que já contemplam defesas contra os cenários identificados.

II. Codificação segura

Aplicar práticas recomendadas como:

  • Validação de entradas do usuário;
  • Evitar senhas e segredos hardcoded;
  • Preferir bibliotecas e frameworks seguros;
  • Seguir as diretrizes do OWASP Top 10.

III. Testes de segurança integrados

Executar os testes SAST e DAST ao longo do ciclo de vida. 

Isso garante que vulnerabilidades sejam descobertas e corrigidas ainda na fase de desenvolvimento, evitando problemas críticos em produção.

IV. Gestão de vulnerabilidades e patches

Manter um processo ativo de identificação e correção de vulnerabilidades conhecidas, com canais claros para divulgação de falhas e atualizações ágeis para o usuário final.

V. Autenticação e autorização robustas

Incluir MFA, políticas de senha forte e acesso baseado em papéis ou políticas (PBAC), garantindo que o controle de acesso seja granular e eficaz.

VI. Criptografia forte e proteção de dados

Criptografar dados em repouso e em trânsito com algoritmos como AES e RSA, gerenciando as chaves de forma segura e auditando os processos regularmente.

5. Principais benefícios do Security by Design

Adotar Security by Design oferece ganhos tangíveis para todas as partes envolvidas.

Confira a seguir os principais benefícios para empresas de desenvolvimento e e usuários finais.

5.1 Para os provedores de software

  • Redução de custos a longo prazo, com menos necessidade de correções emergenciais e gerenciamento de crises;
  • Maior conformidade com regulamentações, como a LGPD, GDPR ou o Cyber Resilience Act;
  • Reputação fortalecida ao mostrar comprometimento real com segurança;
  • Acesso a novos mercados, especialmente os que exigem critérios de segurança elevados, como setores governamentais ou de infraestrutura crítica.

5.2. Para os usuários finais

  • Maior proteção de dados pessoais e corporativos;
  • Melhor desempenho e estabilidade, com produtos menos sujeitos a falhas ou indisponibilidade;
  • Redução de riscos operacionais, como ransomware, phishing ou exploração de falhas;
  • Experiência digital aprimorada, com segurança aplicada de forma invisível e fluida.

6. Desafios na adoção do Security by Design

Apesar dos benefícios, a implementação de Security by Design enfrenta obstáculos que exigem planejamento:

  • Mudança cultural: equipes de desenvolvimento precisam adotar a segurança como parte essencial do produto, e não como uma etapa posterior;
  • Conflito entre usabilidade e segurança: medidas robustas de proteção não podem degradar a experiência do usuário;
  • Infraestruturas legadas: sistemas antigos frequentemente não foram projetados com segurança em mente, o que dificulta sua atualização;
  • Cenário de ameaças dinâmico: a segurança precisa evoluir continuamente com novas técnicas, exploits e vetores de ataque;
  • Escassez de profissionais qualificados: há uma lacuna global na formação de engenheiros com foco em cibersegurança e desenvolvimento seguro.

7. Conclusão

Security by Design representa uma mudança de paradigma na forma como a indústria encara a segurança cibernética. 

Ao antecipar riscos e tratá-los ainda no estágio de design, é possível romper com a cultura de remediação e construir soluções resilientes e confiáveis por padrão.

A adoção do Secure by Design é uma decisão estratégica e um gestão de responsabilidade com clientes, mercado e o ecossistema digital como um todo.

O futuro da cibersegurança não será apenas sobre reagir a ameaças, mas sobre preveni-las de forma sistemática, arquitetônica e colaborativa. 

E isso começa onde tudo se inicia: na concepção e desenvolvimento de softwares e dispositivos.


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