Cristiano Pimenta
À medida que as empresas aprofundam sua dependência das cadeias de suprimentos digitais para inovar e manter sua competitividade, também ampliam sua exposição a violações de dados, malware e ataques de ransomware.
A transformação digital ampliou o perímetro de risco além dos limites tradicionais das organizações, exigindo uma nova mentalidade: a cibersegurança moderna precisa ser estratégica e proativa.
Nesse contexto, a gestão de riscos de terceiros (TPRM) deixa de ser um processo operacional e se torna um elemento-chave da defesa cibernética, protegendo todo o ecossistema digital empresarial.
Neste artigo, abordaremos os principais desafios da segurança nas cadeias de suprimentos digitais.
Também mostraremos como uma postura proativa pode transformar riscos em resiliência, promovendo continuidade e confiança em um ambiente cada vez mais imprevisível.
1. A nova realidade das cadeias de suprimentos digitais
Com a migração massiva para a nuvem, a integração de APIs, o uso crescente de soluções SaaS e a forte dependência de parceiros conectados, as cadeias de suprimentos digitais se tornaram a espinha dorsal da inovação empresarial.
No entanto, essa expansão traz consigo novos riscos cibernéticos.
Hoje, uma empresa pode ser atacada não apenas por vulnerabilidades em seus próprios sistemas, mas também por meio de fornecedores de software, provedores de serviços ou parceiros de negócios.
Casos emblemáticos como o ataque à SolarWinds e à Kaseya evidenciam como um único elo frágil pode desencadear impactos globais.
Essa nova realidade torna urgente revisar o modelo tradicional de gestão de riscos, que já não é suficiente para lidar com a sofisticação e a velocidade das ameaças modernas.
2. O problema dos terceiros: muito além do compliance básico
Historicamente, a gestão de riscos de terceiros limitou-se a checklists de auditoria, avaliações anuais e cláusulas contratuais genéricas.
Esse modelo cria uma falsa sensação de segurança.
Muitos fornecedores críticos continuam operando com:
- Acessos privilegiados desnecessários ou mal gerenciados;
- Falta de segmentação adequada nos ambientes de TI;
- Baixa maturidade em políticas de segurança cibernética.
Além disso, o conceito de quarta parte - fornecedores dos fornecedores - adiciona ainda mais complexidade ao ambiente de risco.
A abordagem precisa mudar: não se trata mais de auditar para validar, mas de monitorar para proteger.
É essencial implementar uma vigilância contínua e orientada a riscos para garantir a resiliência da cadeia de suprimentos.
3. Elementos essenciais de uma proteção proativa de terceiros
Para construir uma proteção verdadeiramente eficaz, a gestão de riscos de terceiros precisa ser:
- Contínua: não basta avaliar riscos uma vez ao ano. O monitoramento deve ser ativo e adaptativo;
- Integrada: os riscos de terceiros devem estar incluídos na matriz global de risco da empresa;
- Baseada em inteligência: o uso de threat intelligence para identificar sinais de comprometimento entre fornecedores é cada vez mais estratégico.
As práticas fundamentais incluem:
- Due Diligence aprofundada antes da contratação, avaliando não apenas aspectos financeiros, mas também a postura de segurança cibernética dos fornecedores;
- Aplicação de frameworks robustos como NIST 800-161, ISO 27036 e o questionário SIG (Standardized Information Gathering);
- Monitoramento de acessos de terceiros com base nos princípios de mínimo privilégio e Zero Trust;
- Simulações de ataques envolvendo terceiros, para avaliar a capacidade de resposta e detectar brechas antes que sejam exploradas.
Empresas que adotam essas práticas conseguem antecipar riscos e responder de forma mais rápida e coordenada aos incidentes cibernéticos.
4. Estratégias para ganhar consistência e velocidade na proteção de terceiros
Para que a proteção proativa seja sustentável, é necessário aplicar estratégias inteligentes:
- Classificação de fornecedores: identificar quais terceiros são críticos para a operação e concentrar esforços proporcionais ao risco;
- Automatização de processos: utilizar plataformas de TPRM, Attack Surface Management (ASM) e avaliações contínuas para ganhar agilidade e precisão;
- Estabelecimento de matrizes de resposta rápida para incidentes envolvendo terceiros;
- Inclusão de cláusulas contratuais de segurança específicas, obrigando notificações imediatas de incidentes e auditorias de conformidade;
- Educação contínua dos fornecedores críticos, promovendo treinamentos e campanhas de conscientização focadas em riscos digitais.
Medir o desempenho por meio de dashboards de risco de terceiros e scorecards de segurança também permite uma gestão mais estratégica e baseada em dados.
5. Pensamento estratégico: segurança de terceiros é resiliência organizacional
Proteger apenas a fronteira da própria organização não é mais suficiente.
Em um ambiente interconectado, a resiliência da empresa depende diretamente da segurança do seu ecossistema digital.
Isso significa que a proteção proativa não pode ser vista como custo, mas sim como um investimento essencial para garantir a continuidade dos negócios, a confiança dos clientes e a conformidade regulatória.
Empresas que lideram a proteção de suas cadeias de suprimentos digitais ganham vantagem competitiva, tornam-se mais atrativas para investidores e clientes, e reduzem significativamente sua exposição a eventos de alto impacto.
5.1. Liderar a segurança na cadeia é liderar o futuro
As cadeias de suprimentos digitais são tão fortes quanto o elo mais fraco que as compõem.
A proteção proativa - baseada em monitoramento contínuo, inteligência de ameaças e estratégias adaptativas - é o novo diferencial competitivo das empresas resilientes.
A hora de agir é agora. Liderar a segurança da cadeia é liderar o futuro da inovação e da confiança no mundo digital.
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