O termo "cibersegurança" é amplamente utilizado para se referir à proteção contra crimes digitais em diversos setores.
Entretanto, na prática, os desafios podem diferir significativamente de um setor para outro, devido às suas especificidades e aos distintos vetores de ataque.
Com o intuito de abordar essas demandas particulares, a equipe de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Diazero Security criou a iniciativa DZ Insight.
Esse projeto envolve uma série de artigos que exploram os principais desafios de segurança enfrentados pelos principais segmentos econômicos.
Nosso propósito é compartilhar, de forma gratuita, nosso conhecimento e análises, fornecendo um guia valioso para aqueles que desejam aprofundar sua compreensão sobre cibersegurança.
Indústria
Com a crescente digitalização e interconexão de sistemas, a indústria energética tornou-se um alvo atrativo para ciberataques, devido à criticidade de seus serviços e ao grande impacto que um ataque bem-sucedido pode causar.
Em 2022, o setor de energia foi o quarto mais atacado, representando 10,7% dos incidentes cibernéticos, segundo o relatório X-Force da IBM.
O Relatório de Ameaças de Dados da Thales de 2024 revela que 42% das empresas de infraestrutura crítica, incluindo a infraestrutura de energia, sofreram uma violação de dados.
Esse cenário é corroborado pela pesquisa The Cyber Priority, que revela uma preocupação alarmante entre os executivos do setor: 85% acreditam que suas operações estão suscetíveis a interrupções por ciberataques, enquanto 84% expressam apreensão em relação a danos a ativos e infraestrutura.
Os riscos cibernéticos no setor de energia concentram-se em duas áreas principais: Tecnologia da Informação (TI) e Tecnologia Operacional (TO).
Ataques direcionados à TI visam sistemas de gestão empresarial, comprometendo dados sensíveis e operações internas.
Por outro lado, ataques à TO focam em sistemas de controle industrial, podendo resultar em interrupções no fornecimento de energia e causar consequências graves para a sociedade e economia.
A crescente convergência entre TI e TO, impulsionada pela digitalização, amplia a superfície de ataque e torna a defesa cibernética mais complexa.
Essa vulnerabilidade é ainda agravada pela dependência de tecnologias legadas, pela falta de protocolos de segurança robustos e pela complexidade das redes de energia, que dificultam a implementação de medidas eficazes de proteção.
Desafios
O setor de energia enfrenta os seguintes desafios principais:
Falhas nas Cadeias de Suprimentos
A complexidade e dependência da cadeia de suprimentos energética tornam difícil gerenciar os riscos de cibersegurança entre diversos stakeholders, fornecedores e provedores de tecnologia
Cerca de 37% das organizações de energia consideram que ataques à cadeia de suprimentos representam uma ameaça significativa nos próximos 12 meses.
A cadeia de suprimentos no setor de energia é composta por diferentes atores que fornecem infraestrutura crítica e serviços essenciais para a produção e distribuição de eletricidade.
Se um dos seguintes componentes falhar em segurança, poderá afetar a cadeia inteira.
- Operadores de Mercado de Energia: Gerenciam o equilíbrio de oferta e demanda. A digitalização com IoT e automação amplia a superfície de ataque, aumentando riscos para o gerenciamento de mercado.
- Empresas de Utilidades: Usam sistemas OT antigos integrados a tecnologias modernas, expondo vulnerabilidades. A dificuldade em aplicar atualizações de segurança e a falta de protocolos adequados tornam esses sistemas suscetíveis a ataques.
- Fornecedores de Equipamentos Elétricos: Fornecem hardware crítico. A integração de equipamentos antigos com IoT pode criar vulnerabilidades extras, especialmente se as práticas de segurança não forem adequadas.
- Provedores de Software de Redes: Sistemas como SCADA são robustos, mas desatualizados para o contexto cibernético atual. A integração com novas tecnologias pode abrir brechas para invasores.
- Integradores de Sistemas e Terceiros: Conectam componentes TI e OT. A combinação de sistemas legados com novos dispositivos aumenta riscos, e integrações inadequadas podem ser exploradas por ciberataques.
Foco Crescente dos Atacantes nos Sistemas de Energia Renovável
Com a crescente adoção de fontes de energia sustentáveis, como a solar e a eólica, o setor de energia renovável está se expandindo rapidamente.
Nessas instalações, sistemas de TI fundamentais, como SCADA, ICS, medidores inteligentes e dispositivos IoT, têm papéis cruciais no gerenciamento e monitoramento das operações.
Entretanto, essa dependência crescente de tecnologia também aumenta a exposição a possíveis ataques cibernéticos.
- Infraestrutura Descentralizada: A energia renovável é geralmente gerada em locais distribuídos (parques solares, eólicos, etc.) e depois conectada à rede elétrica. Essa descentralização cria uma superfície de ataque mais ampla e fragmentada, pois cada ponto de geração pode ser um alvo potencial para ciberataques.
- Integração de Sistemas Inteligentes e IoT (Internet of Things): Energia renovável depende muito de tecnologias modernas e conectadas, como redes inteligentes (smart grids), sensores IoT para monitoramento em tempo real e sistemas de controle automatizado. A interconexão desses dispositivos, se não for bem protegida, pode representar uma vulnerabilidade significativa.
- Interdependência com Tecnologias de Armazenamento e Infraestruturas de Rede: Como a produção de energia renovável é intermitente (depende do sol, vento, etc.), a infraestrutura de armazenamento, como baterias de grande escala, é crucial para manter a estabilidade da oferta. Essas tecnologias são sensíveis a ataques cibernéticos que podem afetar a capacidade de armazenar ou liberar energia de forma controlada.
- Novos Protocolos e Softwares Específicos para Fontes Renováveis: Como a energia renovável é um setor em rápido crescimento e que depende de inovação tecnológica, frequentemente são usados protocolos de comunicação e softwares específicos para a gestão de sistemas solares ou eólicos. Isso cria desafios em termos de atualização e proteção desses sistemas, já que muitos deles são desenvolvidos rapidamente para atender à crescente demanda e podem não passar por rigorosos processos de avaliação de segurança.
- Conexão à Rede Convencional (Grid Integration): A integração da energia renovável à rede convencional também pode trazer riscos de cibersegurança. Caso a conexão à rede convencional (grid) não seja devidamente segura, ataques podem se propagar da infraestrutura renovável para a rede mais ampla, afetando o fornecimento geral de energia.
Ciberataques Sofisticados Patrocinados por Estados Nacionais
Ciberataques patrocinados por Estados-nação têm se tornado uma ameaça crescente à infraestrutura crítica de energia, impulsionados por tensões geopolíticas e conflitos globais.
A energia, sendo essencial para o funcionamento da sociedade, é um alvo preferencial para adversários que buscam causar disrupções em larga escala ou obter vantagens estratégicas.
Esses ataques são frequentemente conduzidos por governos ou grupos apoiados por Estados, caracterizando-se por sua alta sofisticação técnica.
Com amplos recursos à disposição, esses atores conseguem desenvolver ferramentas personalizadas para explorar vulnerabilidades específicas em sistemas de controle industrial e redes de energia.
As consequências de um ataque bem-sucedido podem variar desde interrupções temporárias até apagões prolongados, resultando em impactos econômicos severos e danos à infraestrutura.
As motivações variam desde desestabilizar um oponente até ganhar vantagens econômicas ou obter informações estratégicas.
O uso de ciberataques para interromper o fornecimento de energia pode ser empregado como uma forma de coerção política, gerando instabilidade e caos no país alvo.
Como abordamos anteriormente, o Brasil abriga uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo e possui uma variedade de outras fontes de energia.
Riscos como o ransomware, que exige pagamento para liberar sistemas sequestrados, representam uma ameaça significativa.
Práticas de Proteção
A melhor proteção para a cadeia de suprimentos no setor de energia começa com uma abordagem de segurança em camadas (defense-in-depth), que abrange não apenas as tecnologias utilizadas, mas também as pessoas e processos.
Uma estratégia robusta deve incluir avaliações contínuas de risco, implantação de sistemas de monitoramento de segurança para identificar anomalias em tempo real, e implementação de protocolos rigorosos para controle de acesso.
Isso ajuda a garantir que sistemas legados e modernos sejam protegidos de forma integrada, reduzindo a superfície de ataque e minimizando o impacto potencial de ameaças.
Além disso, gerenciar a segurança de terceiros é crucial, já que fornecedores e integradores de sistemas são pontos críticos na cadeia de suprimentos.
Isso significa estabelecer requisitos de segurança rigorosos para parceiros, realizar auditorias regulares de suas práticas e garantir que qualquer integração de sistemas seja feita seguindo padrões seguros.
A implementação de programas de segurança específicos para os dispositivos de IoT, com autenticação forte e criptografia de dados, ajuda a proteger pontos vulneráveis.
Conclusão
No mercado de energia, é praticamente impossível prevenir completamente ataques cibernéticos.
No entanto, para garantir a continuidade e estabilidade das operações de infraestrutura crítica, é essencial que os sistemas energéticos sejam projetados e operados com foco em resiliência cibernética.
Isso significa que devem ser capazes de suportar ataques, recuperar-se rapidamente e manter a eficiência operacional.
A resiliência cibernética requer um investimento contínuo em recursos materiais e humanos para fortalecer a infraestrutura.
Uma abordagem eficaz deve combinar prevenção, mitigação e recuperação.
Prevenir ataques cibernéticos sempre que possível, mitigar danos em caso de incidente e restaurar rapidamente as operações são componentes essenciais dessa estratégia.
Recentemente, a Diazero realizou uma simulação de ataques de ransomware em sistemas de OT para ilustrar as táticas empregadas por cibercriminosos e destacar as medidas de segurança mais eficazes para proteger essas infraestruturas.