Ao contrário de métodos tradicionais que exigem ação do usuário, os zero click attacks exploram vulnerabilidades invisíveis e comprometem dispositivos sem qualquer interação da vítima.
Esses ataques representam uma evolução significativa no cibercrime, pois podem afetar qualquer pessoa, de usuários comuns a líderes políticos, executivos e organizações críticas.
Neste artigo abordaremos como esses ataques funcionam, quais suas principais variantes e, principalmente, as medidas necessárias para mitigá-los.
1. O que são os zero-click attacks
Um zero-click attack explora falhas de segurança em sistemas operacionais, aplicativos de mensagens ou protocolos de comunicação sem exigir que o usuário realize qualquer ação.
O atacante envia uma carga maliciosa (“payload”) disfarçada em um dado aparentemente inofensivo — por exemplo, uma mensagem, uma chamada telefônica ou um pacote de rede.
Quando o sistema processa automaticamente esse dado, o código é executado, permitindo acesso remoto ou controle total do dispositivo.
Os zero-click attacks podem atingir uma ampla gama de sistemas: smartphones Android e iOS, computadores com Windows, Linux ou Unix, e até mesmo infraestruturas conectadas.
Essa característica torna-os especialmente perigosos, pois se disseminam de forma silenciosa, podendo transformar um único dispositivo comprometido em uma ponte para invadir toda a rede.
O aspecto mais alarmante é a invisibilidade: a vítima não precisa clicar em nada, abrir anexos nem visitar sites suspeitos para ser comprometida.
A simples recepção de um pacote malicioso pode ser suficiente para conceder ao atacante acesso às comunicações, arquivos, câmeras e microfones do dispositivo.
2. Mecanismos e vetores do zero-click attack
Existem diferentes métodos pelos quais um zero-click attack pode ser executado.
Em geral, esses ataques ocorrem através da transmissão de dados especialmente formatados por canais sem fio, como GSM, LTE, Wi-Fi, Bluetooth ou NFC.
As vulnerabilidades podem residir tanto no chip responsável pelo processamento inicial dos dados quanto nos aplicativos que interpretam esses dados.
2.1. Evil Twin Attack
Um dos métodos mais citados é o Evil Twin Attack.
Trata-se de uma técnica em que o invasor cria um ponto de acesso Wi-Fi falso, idêntico ao legítimo, para enganar o usuário.
Esse “gêmeo malvado” usa o mesmo SSID e BSSID da rede original.
Ele interrompe momentaneamente a conexão legítima para forçar o dispositivo da vítima a se conectar ao ponto falso.
A partir daí, o atacante pode interceptar comunicações, injetar códigos maliciosos e capturar credenciais.
Ferramentas como Airbase-ng, Fluxion e EvilTwinFramework são frequentemente usadas para realizar esse tipo de ataque.
Essa abordagem, embora pareça simples, é altamente eficaz, especialmente em ambientes corporativos ou públicos onde há múltiplas redes sem fio disponíveis.
Uma vez comprometido o dispositivo, o atacante lança cargas maliciosas que permitem acesso remoto, espionagem ou a propagação de malware para outros equipamentos da rede.
2.2. Netcat e trojans disfarçados
Outro método envolve o uso de ferramentas como o Netcat, amplamente conhecido como o “canivete suíço” das redes.
O atacante pode enviar arquivos aparentemente inofensivos, como documentos ou imagens, que contêm payloads ocultos.
Quando o sistema processa esses arquivos, o malware se conecta ao servidor do invasor, estabelecendo um canal de comunicação silencioso.
Esse vetor de ataque é frequentemente explorado por vulnerabilidades como a CVE-2019-11932.
Essa falha, que afetou o WhatsApp em 2019, permitia a execução remota de código com o simples envio de um arquivo GIF.
2.3. Simjacker
O Simjacker é uma forma avançada de zero-click attack que explora vulnerabilidades em cartões SIM.
O ataque é realizado por meio de mensagens SMS especialmente formatadas, que contêm comandos STK (SIM Toolkit).
Esses comandos são processados pelo navegador S@T do chip.
Isso permite ao invasor acessar informações do dispositivo, enviar mensagens, efetuar chamadas, rastrear a localização e até instalar malware sem o conhecimento do usuário.
O perigo do Simjacker está em seu alcance: afeta mais de um bilhão de dispositivos globalmente.
Ele não depende do sistema operacional, e sim da arquitetura do SIM, o que torna a mitigação mais complexa.
2.4. Ataques a basebands e redes móveis
Os basebands — componentes responsáveis pela comunicação com torres de celular — são outro ponto crítico explorado pelos ataques de clique zero.
Em redes antigas (2G), o telefone autentica a torre, mas a torre não autentica o telefone, o que permite a criação de estações base falsas.
Com o advento das redes SDR (Software Defined Radio), tornou-se relativamente barato e simples montar uma torre falsa, interceptando e manipulando tráfego.
Mesmo em redes 3G e 4G, há formas de “downgrade attacks”, forçando o dispositivo a se conectar a uma rede menos segura.
2.5. Ataques via Bluetooth
Os ataques Bluebugging e Bluesnarfing também são considerados vetores de zero-click attack.
No primeiro, o invasor obtém controle total do dispositivo via Bluetooth, podendo enviar e receber mensagens, fazer chamadas e acessar dados pessoais.
No segundo, mesmo que o Bluetooth esteja em modo invisível, o atacante consegue copiar informações sensíveis como fotos, contatos e senhas.
Casos notórios, como as vulnerabilidades BLEEDINGBIT (2018) e CVE-2019-9506, demonstram como falhas em chips Bluetooth podem ser exploradas para comprometer milhões de dispositivos simultaneamente.
3. Impactos e ameaças associadas ao zero-click attack
O impacto potencial dos zero-click attacks vai muito além do roubo de dados pessoais.
Esses ataques podem colocar em risco infraestruturas críticas, como hospitais, sistemas de saneamento, redes de energia e até armamentos militares conectados.
A possibilidade de um atacante assumir o controle de sistemas automatizados e armas inteligentes transforma o zero-click attack em uma ameaça de segurança nacional.
Além disso, o caráter silencioso e invisível do ataque dificulta a detecção.
Muitas vezes, o dispositivo infectado continua funcionando normalmente, enquanto o invasor espiona comunicações, grava chamadas e captura dados sensíveis.
Em ambientes corporativos, isso pode resultar em espionagem industrial, vazamento de propriedade intelectual e danos à reputação da marca.
4. Medidas de prevenção aos zero-click attacks
As estratégias de defesa contra zero-click attacks podem ser agrupadas em três dimensões: boas práticas do usuário, fortalecimento de infraestrutura e melhorias no design de segurança dos sistemas.
4.1. Medidas para usuários
- Manter o sistema operacional e aplicativos atualizados é essencial. Fabricantes lançam constantemente patches de segurança para corrigir vulnerabilidades exploráveis em ataques sem interação;
- Instalar softwares antimalware e ferramentas de detecção comportamental pode ajudar a identificar atividades suspeitas mesmo quando o malware não é detectado por assinatura;
- Evitar redes Wi-Fi públicas ou desconhecidas e desativar conexões automáticas previne o risco de ataques do tipo Evil Twin;
- Desligar Bluetooth e NFC quando não estiverem em uso, minimizando as superfícies de ataque;
- Evitar o uso de dispositivos antigos, especialmente aqueles que ainda operam com 2G ou possuem basebands desatualizados.
4.2. Medidas para organizações e provedores de dados
Empresas devem adotar políticas de segurança em camadas, com monitoramento contínuo do tráfego de rede, análise de comportamento anômalo e segmentação de sistemas críticos.
Os provedores de telecomunicações também desempenham um papel vital ao filtrar mensagens e pacotes potencialmente maliciosos e exigir autenticação mútua entre dispositivos e estações base.
4.3. Medidas técnicas específicas
- Ocultar o BSSID de pontos de acesso e utilizar filtragem de endereços MAC pode reduzir a exposição a ataques Wi-Fi;
- Verificar dispositivos conectados diariamente ajuda a identificar conexões suspeitas;
- Usar redes 4G ou 5G, que possuem autenticação mútua entre dispositivo e estação base, reduz o risco de ataques por basebands falsos;
- Empregar criptografia ponta a ponta em comunicações sensíveis e validar a integridade de arquivos e mensagens antes de processá-los.
5. Conclusão
Os zero-click attacks representam uma das ameaças mais sofisticadas e perigosas do cenário cibernético contemporâneo.
Sua capacidade de comprometer sistemas sem qualquer ação humana desafia os paradigmas tradicionais de segurança digital e expõe a fragilidade das infraestruturas modernas.
Para enfrentar essa ameaça, é fundamental adotar uma abordagem proativa e multidimensional, combinando conscientização dos usuários, atualizações regulares e práticas de segurança em camadas.
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