Golpe do boleto falso: saiba como identificar e o que fazer ao cair

Nos últimos anos, o golpe do boleto falso emergiu como uma das fraudes mais sofisticadas e prejudiciais no cenário cibernético brasileiro. A prática envolve a falsificação de boletos bancários, levando vítimas a realizar pagamentos para contas fraudulentas. Com uma abordagem cada vez mais refinada e persuasiva, os golpistas conseguem convencer até mesmo os usuários mais cautelosos.

Neste artigo, exploraremos em detalhes diferentes facetas do golpe do boleto bancário falso. Primeiramente, abordaremos a probabilidade de você se tornar vítima deste golpe no contexto cibernético brasileiro atual. Em seguida, explicaremos detalhadamente como funciona o golpe do boleto falso, destacando as táticas mais comuns usadas pelos cibercriminosos.

Posteriormente, apresentaremos estratégias eficazes para identificar boletos falsos e proteger-se contra este tipo de fraude. Contudo, se você já foi vítima desse golpe, não entre em pânico. Também oferecemos orientações sobre como agir nesse caso e discutiremos a viabilidade de responsabilizar a empresa emissora do boleto original pelos danos sofridos.

Ao compreender as nuances deste golpe e as medidas preventivas e corretivas disponíveis, usuários e empresas podem fortalecer sua segurança e proteger-se da ação de cibercriminosos.

Qual é a probabilidade de eu ser vítima do golpe do boleto?

A probabilidade de tornar-se vítima do golpe do boleto é uma preocupação real, especialmente considerando o enorme volume de dados pessoais vazados recentemente no Brasil.

Conforme estudo da Tenable, em 2022, houve a exposição de 984,7 milhões de dados pessoais de brasileiros, o que equivale a 43% dos vazamentos registrados globalmente. Esse número alarmante inclui um megavazamento ocorrido em 2021 e repetido em janeiro de 2024, o qual impactou praticamente toda a população do Brasil. Nesses incidentes, informações como nome completo, data de nascimento, sexo e CPF de 223 milhões de pessoas foram expostas na internet.

Essas informações foram veiculadas no Elasticsearch, ferramenta de pesquisa, análise e visualização de grandes conjuntos de dados. O vazamento estava em uma instância pública da plataforma, permitindo acesso a qualquer pessoa, inclusive cibercriminosos.

É crucial ter em mente que uma vez expostos na internet, os dados permanecem disponíveis permanentemente. É sempre possível encontrá-los, seja em fóruns da dark web, repositórios da internet ou sendo vendidos em grupos de aplicativos de mensagens. Isso indica que qualquer pessoa pode se tornar o próximo alvo desses golpistas digitais.

Você pode descobrir se seu e-mail foi alvo de vazamentos acessando o site Have I Been Pwned, que reúne informações sobre dados vazados. Caso positivo, é aconselhável mudar sua senha imediatamente e ativar a autenticação em dois fatores para aumentar a segurança.

Como funciona o golpe do boleto falso?

O golpe do boleto falso é uma prática cibercriminosa que pode assumir diferentes formas. Os fraudadores costumam agir de modo sofisticado para convencer as vítimas de que estão lidando com documentos autênticos. Confira a seguir as principais formas como os criminosos executam esse golpe:

• Golpe do boleto na loja virtual: a pessoa realiza uma compra em uma loja virtual legítima, mas os cibercriminosos interceptam a transação e enviam um boleto falso. A troca de documentos pode ocorrer quando uma nova página da loja virtual é aberta para gerar o boleto;
• Golpe do boleto por e-mail falso: os golpistas se passam por empresas ou outras organizações e enviam e-mails falsos contendo boletos para as vítimas. Muitas vezes, os cibercriminosos relacionam esses boletos a contas recorrentes de serviços como água, internet e luz. Os consumidores, acostumados a receber esses boletos por e-mail, podem não perceber alguns sinais de falsificação, como endereços de e-mail suspeitos;
• Golpe do boleto por e-mail interceptado: os criminosos acessam o e-mail da vítima e alteram boletos anexados em e-mails verdadeiros de cobrança de contas. Dessa forma, as vítimas podem acabar pagando boletos falsos sem perceber;
• Golpe do boleto de doação beneficente: golpistas podem se passar por instituições beneficentes, solicitando doações por meio de boletos falsos. No entanto, o valor pago não vai para a instituição, mas sim para a conta dos cibercriminosos;
• Golpe da renegociação via boleto: após vazamentos de dados pessoais, os golpistas obtêm informações como CPF da vítima e descobrem que ela possui dívidas. Então, eles enviam propostas falsas de renegociação de dívidas por e-mail ou WhatsApp, incluindo boletos falsos para pagamento.

Como identificar um boleto falso e não cair no golpe?

Em vista da diversidade e sofisticação dos golpes supracitados, tornou-se crucial saber como identificar boletos falsos para evitar cair em eventuais armadilhas. Nesta seção, vamos explorar estratégias práticas para ajudá-lo a reconhecer boletos fraudados e proteger-se contra esse golpe.

Verifique se seus dados pessoais estão corretos

Cibercriminosos frequentemente usam informações pessoais como parte de seus golpes. Eles podem roubar dados de indivíduos e usá-los em boletos falsos para dar a impressão de legitimidade ao golpe. Ao olhar para um boleto e ver seu próprio nome nele, é fácil acreditar que o documento é legítimo.

Contudo, é comum que os golpistas enviem um grande volume de boletos idênticos para várias pessoas com intuito de aumentar suas chances de sucesso. Nessas situações, o boleto pode não conter suas informações pessoais, fato que imediatamente coloca em xeque a sua veracidade.

Mesmo que suas informações estejam presentes no boleto, é importante verificar se tudo está correto: nome, CPF, endereço, entre outros. Se o boleto apresentar apenas seu primeiro nome e último sobrenome, sem as iniciais que formam seu nome completo, isso também pode indicar um golpe.

Quando um cibercriminoso obtém dados online, muitas vezes ele tem acesso apenas ao primeiro e ao último nome da pessoa, o que pode resultar em informações de cobrança incompletas ou inconsistentes. Portanto, é essencial examinar cuidadosamente todos os detalhes do boleto antes de efetuar o pagamento, a fim de evitar cair em golpes.

Examine cuidadosamente o código do boleto 

O código do boleto bancário, como uma carteira de identidade, guarda informações valiosas que podem te proteger de golpes e garantir que você pague apenas o que é devido. 

O banco emissor do boleto, por exemplo, é identificado pelos três primeiros dígitos do código de barras. Confirme se este banco coincide com o nome impresso no boleto. 

A tabela  abaixo resume a estrutura completa de um código de barras de boleto bancário. Nesse sentido, os dígitos verificadores funcionam como algoritmo de validação, enquanto os campos livres identificam o boleto entre os demais gerados pela empresa emissora. Confira:

Utilize um leitor automático do código de barras

Utilizar a leitura automática do código de barras é outra estratégia que também contribui para a prevenção do golpe do boleto falso. Em vez de inserir manualmente os números do código de barras, é recomendável utilizar um aplicativo ou dispositivo para escanear e validar a autenticidade do boleto.

Confira os dados da instituição emissora 

É fundamental examinar também quem enviou o boleto, o destinatário do pagamento e sua origem. Normalmente, os boletos indicam a razão social da empresa, e não apenas o nome fantasia. Por outro lado, os boletos falsos são muitas vezes emitidos no nome fantasia da empresa.

Ademais, no momento do pagamento, é crucial confirmar se o beneficiário que aparece na tela, após a leitura do código de barras, corresponde de fato à empresa que você espera estar realizando o pagamento.

Se a dúvida persistir, contate a instituição emissora do boleto

Caso ainda haja alguma dúvida após essas verificações, é altamente recomendável entrar em contato com a instituição emissora. Utilize os canais oficiais de atendimento, como telefone, site ou aplicativo, evitando contato por e-mail ou WhatsApp, que podem ser canais de fraude. Durante o contato, informe o número do boleto e solicite a confirmação da autenticidade da cobrança.

Cai no golpe do boleto falso, e agora?

Tornar-se vítima de um golpe de boleto falso é uma situação angustiante, mas é fundamental agir rapidamente para defender seus direitos e buscar reparação. Se você acabou pagando um boleto fraudado, aqui estão algumas ações que você deve tomar imediatamente:

• Informar sua instituição financeira: ao ter certeza de que caiu no golpe do boleto falso, entre em contato imediatamente com sua instituição financeira. Forneça uma explicação detalhada do ocorrido, incluindo todos os detalhes relevantes e informações pertinentes. Assim, eles poderão dar orientações sobre os próximos passos a serem tomados e iniciar uma investigação interna;
• Registrar um boletim de ocorrência: acesse uma delegacia de polícia virtual ou dirija-se à unidade mais próxima e realize um registro formal do golpe. Faça um boletim detalhado, incluindo informações sobre o boleto falso e os comprovantes de pagamento;
• Reunir evidências: é fundamental guardar todas as provas relativas ao golpe, como conversas, e-mails, capturas de tela, comprovantes de pagamento e qualquer outra evidência. Essas informações serão cruciais para respaldar qualquer ação legal que você possa tomar;
• Recuperação do prejuízo financeiro: é possível tentar obter a restituição do valor pago indevidamente, além de eventuais danos morais e materiais, através do ajuizamento de uma ação. É importante, contudo, contar com o apoio de um advogado especializado para avaliar a viabilidade da ação judicial e representá-lo perante o tribunal.

É possível responsabilizar a empresa emissora do boleto original?

A possibilidade de responsabilização da empresa emissora do boleto original depende diretamente do nível de segurança da informação mantido pela mesma. 

Atualmente, no Brasil, não existe uma legislação específica ou uma jurisprudência consolidada sobre o tema. Nesse sentido, a tendência do judiciário tem sido entender que a responsabilidade pode recair sobre o consumidor em casos de imprudência. 

Contudo, existem situações em que a empresa pode ser responsabilizada com base nos artigos da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A LGPD estabelece diretrizes claras para a coleta, armazenamento e uso de dados pessoais, e impõe responsabilidades às empresas para garantir a segurança dessas informações.

Assim, se for comprovado que o banco ou a empresa não assegurou a devida proteção aos dados do cliente, ela poderá ser responsabilizada legalmente. Nesses cenários, o juiz pode exigir que a empresa comprove a ausência de falhas de segurança que possam ter contribuído para a fraude.

Recomendações para empresas

Incidentes de segurança, como vazamentos de dados, podem deixar a empresa suscetível a responsabilidades legais, especialmente em casos que culminem em golpes. 

Portanto, é crucial que as corporações intensifiquem a vigilância sobre seus ambientes digitais a fim de garantir a segurança e integridade dos dados de seus clientes.

Além disso, é fundamental promover a conscientização dos usuários, através de comunicações como e-mails e pushs de aplicativo, alertando sobre a importância de ficar atento para evitar fraudes. 

Essas medidas não apenas protegem a empresa, mas também fortalecem a confiança do consumidor e contribuem para a segurança do ecossistema digital como um todo.

Conclusão

O golpe do boleto falso, infelizmente, é uma realidade recorrente no Brasil, impactando tanto pessoas quanto empresas. Ao longo deste artigo, exploramos a probabilidade de se tornar vítima dessa fraude, desvendamos seu funcionamento e apresentamos dicas para identificar boletos falsos e evitá-los.

Para aqueles que acabaram caindo no golpe, agir com rapidez é crucial. Para tentar recuperar seu prejuízo, é fundamental que você tome rapidamente medidas como registrar um boletim de ocorrência, notificar sua instituição financeira e buscar orientação legal.

É importante ressaltar que a responsabilidade de combater esse crime não se limita aos indivíduos. As empresas também têm um papel fundamental a desempenhar nesse processo. Isso envolve investir em medidas de segurança e conscientização, como a implementação de sistemas de proteção de dados mais robustos e a realização de campanhas educativas.

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